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SALA DE
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TEMPORÁRIAS
O Boogie Woogie é parte integrante da Janela Indiscreta e não pode ser vendido em separado
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sexta-feira, março 21
Sobre fotografar sons, Lídia. Fiquei a pensar na tua pergunta. As fotografias são necessariamente mudas. Mas penso que quanto maior for a exactidão com que se fotografa tudo o que é visível numa imagem, mais notória será a ausência do que não é visível. Se essa ausência for flagrante, a imaginação fará o resto e irá buscar o que falta. Suponho que isto não é o mesmo que fotografar a essência da música, como dizias, mas sendo uma possibilidade de impor som àquilo que por natureza é silencioso, pode ser um ponto de partida. E lembrei-me outra vez da fotografia clássica de Munkacsi, em que todos os sons se nos impõem: A fotografia no cinema Não consigo evitar. Não consigo ver um filme sem ver o filme e as imagens que o formam influenciam muito a opinião que depois, se for caso disso, formarei. Custa-me sempre ver filmes onde a perspectiva não se move. A dos olhos humanos move-se. Se eu mexer a minha cabeça um milímetro tudo à minha volta mudará: o computador, a uma distância de 50 centímetros; a secretária em frente à minha, a dois metros; a janela, mais adiante; a varanda, o jardim, a árvore, o edifício do outro lado da praça. Tudo, sem excepção, se apresentará noutra perspectiva. Ainda que mínima, é notável essa mudança e a sua possibilidade é uma das coisas que mais me fascina na visão humana. Gosto ainda mais de ver do que de fotografar. Por isso, não me aborreço se fizer uma viagem de autocarro ou de comboio sem um livro, na condição de ter por perto uma janela. E vou ao cinema em busca de mais viagens através de imagens e de perspectivas. Ontem fui ver As Horas e a fotografia deste filme (apesar da luz muito bonita) é lisa e estática. Gostei do filme, mas não fiz viagem nenhuma. segunda-feira, março 17
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